A espiritualidade do encontro

Vivemos tempos difíceis, marcados por fome, miséria, corrupção, guerras e políticas que visam à exclusão e a perseguição. É preciso romper com a cultura do descarte e da exclusão. Muitas são as perdas, dores e sofrimentos que as pessoas são submetidas – desemprego, doenças, morte de entes queridos, assaltos e fome. É preciso conscientizar-se que fome não é ter vontade de comer, mas não saber quando irá se alimentar. Cada qual sabe o que lhe dói e lhe causa desarmonia. É nesse contexto que Jesus de Nazaré surge como o antigo que é novo.

O evangelho de Lc 15, 11-32 se estabelece como a síntese de todo o evangelho. Misericórdia – O coração de Deus na miséria humana. Somos todos filhos que partimos da casa do Pai. Partimos quando caímos ou quando não conseguimos nos compreender e nos aceitar. O que esta parábola nos transmite é que Deus não nos rejeita, não nos pune e não nos abandona. Nós é que muitas vezes nos abandonamos quando perdemos a esperança em nós mesmos.  Não se pode perder a esperança no Perdão do Pai. O filho que tudo perdeu na terra longínqua retorna para o Aconchego, Ternura e a Graça. Sua dignidade foi restaurada pelo gesto concreto, pela ação Misericordiosa que se recusa a tratá-lo como um de seus servos. Ao contrário, o Pai é que o serve com novas vestes, sandálias, anel e uma festa. Restituiu-lhe a dignidade.

Jesus, o maior contador de estórias de todos os tempos é também a imagem visível do Rosto e do Coração do Pai, revelando-se como a própria Misericórdia. Portanto, somente seremos cristãos autênticos quando vivenciarmos a prática da Misericórdia uns com os outros. Não é necessária nenhuma obra extraordinária. Simples gestos como um sorriso, um aperto de mão e uma escuta. Não fomos feitos para nós mesmos. É preciso ir além de nossas necessidades e mergulhar no coração e na dor do outro. É assim que nossa humanidade vai se construindo. Sem isso o ser cristão torna-se uma letra morta e apenas uma regra de conduta social. Ou como afirmou o Papa Francisco aos quarenta mil Jovens no Circo Maximo, na Itália  no dia 11/08/18 : “A Igreja sem testemunho é  somente fumaça”. O Cristianismo é muito mais que uma religião, é um jeito de ser.

A psicanálise nos transmite que a prática da empatia é um signo de espíritos saudáveis. Sou empático à medida que pratico a espiritualidade do encontro. Encontrar não é um ato físico. É antes de tudo acolhimento e escuta. Abrir mão de julgamentos, que nada contribuem para o crescimento do outro. Jesus, sem dúvida alguma é o Maior psicólogo que existiu. Acolhimento, escuta, cuidado e amor. A parábola do Pai Misericordioso é perfeitamente pedagógica, pois ela em si não se trata de um julgamento ou de um cumprimento de uma norma social. Ela visa transmitir qual a melhor maneira de se chegar ao coração de Deus e das pessoas. Propõe-nos a renovação e transformação subjetiva. Provoca-nos ao novo, pois a “lei não é maior que o amor” (Gl 5:14). A prática autentica do jeito de Jesus é uma eficaz maneira da promoção da saúde espiritual. É preciso possuir um espírito de insatisfeito, um coração que deseje ardentemente a felicidade. Para a Psicologia e a Sociologia, tanto a empatia como a solidariedade são estratégias para se colocar no lugar do outro.

Não podemos nos esquecer de que somos incompletos e por isso devemos buscar no outro ser humano a presença de Deus. A única maneira de amar a Deus é cuidando de nós mesmos e daqueles que Deus-Pai nos confiou com cordialidade e gentileza.

*Márcio Eurípedes Gomide – Psicólogo e Mestre em Ciências da Religião

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